Posição da ABECE sobre o acidente na linha 4 do Metrô de São Paulo
Janeiro/2007

A ABECE está atenta ao desenrolar dos acontecimentos a partir do lamentável acidente ocorrido em 12 de janeiro de 2007 nas obras da linha 4 do Metrô de São Paulo. Diante das informações, opiniões e especulações a que a população teve acesso nos últimos dias, a Associação sente-se na obrigação de externar a sua posição frente ao ocorrido:

1. A atividade principal da Engenharia é gerar bem-estar para a população: todas as atividades da Engenharia têm como foco a melhoria das condições de vida do ser humano. Especificamente, na área da Engenharia Civil, a execução de projetos é um processo que inclui rotinas estruturadas para minimizar os riscos aos usuários. A seqüência de fases de projeto (Preliminar, Básico, Pré-Executivo e Executivo) visa fornecer parâmetros para o aprofundamento e validação das decisões de Engenharia (projetos e processos executivos), sempre objetivando a garantia da segurança das estruturas. Dessa forma, tragédias como a ocorrida na linha 4 do Metrô mostra uma possível falha do processo, cabendo aos engenheiros buscar as causas desse insucesso, apontar os erros e, se for o caso, rever seus procedimentos. Indubitavelmente, é chegado o momento de tornar obrigatória a verificação de projetos de obras públicas, assim como o acompanhamento de sua execução pelo projetista responsável, práticas estas consagradas internacionalmente.

2. A Engenharia é uma atividade que envolve riscos: é importante relembrar que a Engenharia não é ciência exata. A solução de seus problemas envolve a consideração e análise de riscos, seja na construção de uma residência, de um viaduto ou de uma linha de metrô. A ocorrência de tragédias em grandes obras de construção civil não é exclusividade brasileira. Acidentes como o do Terminal do Aeroporto Charles de Gaulle, na França, em 2004, demonstram que, em todos os lugares do mundo, os procedimentos de Engenharia podem estar sujeitos a insucessos e, não por isso, possam ser injustificados. Ademais, é importante salientar que o Consórcio Via Amarela é formado por empresas reconhecidas internacionalmente por sua competência técnica, com ampla experiência na execução de obras desse porte.

3. Especulações sobre as causas do acidente, nesse momento, só servem para trazer insegurança e confundir a população: todas as ações emergenciais, após acontecimentos dessa magnitude, devem objetivar o resgate das vítimas e a manutenção da vida das pessoas envolvidas. Opiniões e especulações sobre as causas do acidente, além de prematuras, nada contribuem com o objetivo principal citado. Terminados os trabalhos de resgate, serão iniciados os processos de investigação e análise dos motivos do acidente. Seja o fator gerador problemas geotécnicos, estruturais, executivos ou de controle dos procedimentos ou de materiais empregados, o certo é que, no momento, nenhuma pessoa ou instituição dispõe de todos os dados e conhecimento de fatos necessários a uma conclusão responsável.

4. Os engenheiros brasileiros estão plenamente capacitados para buscar as causas do acidente com isenção e responsabilidade: o Brasil conta com inúmeros profissionais, tecnicamente capacitados e com reputação ilibada, para atuar nas comissões que serão formadas para investigar o acidente. O envolvimento de consultorias internacionais, com o argumento de que estas dariam maior credibilidade e isenção ao processo, presta um desserviço ao colocar toda a classe em suspeição.

5. A Engenharia Nacional vem sendo, sistematicamente, sucateada ao longo dos anos: é importante ressaltar que a ocorrência de insucessos em obras de engenharia pode ser reflexo da má remuneração dos profissionais da área, o que traz queda do nível de formação, e da pressão por prazos cada vez mais escassos para elaboração de projetos e execução de obras.

Nesse momento, em que o colapso da obra do Metrô causa transtornos à população, a ABECE reivindica que sejam realizados todos os esforços na apuração das possíveis causas e na identificação dos responsáveis pelo acidente.

A ABECE se solidariza com a população de São Paulo e reafirma seu compromisso de continuar trabalhando pelo aprimoramento dos profissionais da engenharia estrutural, se colocando à disposição para auxiliar nos trabalhos de análise das causas do acidente e no desenvolvimento de procedimentos adicionais que evitem a ocorrência de fatos lamentáveis como este.