Cidade não tem levantamento de marquises


A Prefeitura de Jaú não possui levantamento do número de marquises e sacadas existentes na cidade. No entanto, a secretária de Transporte e Trânsito, Magaly Pazzian Romão, diz que é possível chegar ao número através de mapeamento aéreo. Já a Associação dos Engenheiros e Arquitetos classifica o trabalho como “impossível”. Em fevereiro e março, quedas de marquises em Londrina e na cidade do Rio de Janeiro causaram a morte de cinco pessoas e amputação de membros em outras duas.

Magaly afirma que as marquises e sacadas são construções irregulares, pois invadem o espaço público. “Apesar de ficar a alguns metros do solo, são obstáculos na via e podemos inclusive solicitar que os proprietários retirem essas estruturas”, fala a secretária ao citar uma futura revitalização da área central da cidade. As marquises são lajes em balanço que servem para proteger a fachada dos imóveis.

No entanto, para o presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Jaú, João Francisco de Miranda Prado, verificar a quantidade de marquises e sacadas na cidade não é tão simples. “A Prefeitura não tem pessoal para fazer esse trabalho.” Prado acredita que a questão penda para a conscientização dos proprietários no momento da construção do imóvel.

O presidente da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece), Valdir Silva da Cruz, declara que a Prefeitura deveria fazer o levantamento do número de sacadas e marquises da cidade. “Para verificar pelo menos a quantidade, metragem, idade e, principalmente, as condições atuais das estruturas.”

Precariedade

A maioria das marquises da cidade está em prédios cuja construção acumula décadas. Na região central, os donos de estabelecimentos comerciais alugam os imóveis e, com isso, se eximem da responsabilidade caso haja um acidente. “Aluguei o local há três anos, mas nunca ninguém veio ver”, diz Jacira Devequi, proprietária de uma base de mototáxi na Rua Edgar Ferraz, no Centro de Jaú, cuja entrada é protegida por uma marquise.

No Vip Hotel, na Rua Lourenço Prado, em frente da Praça Siqueira Campos, também na região central, há uma marquise de cerca de 30 metros que cobre a fachadas e outros dois estabelecimentos comerciais. O proprietário do hotel não retornou a ligação.

No Hospital São Judas, na Avenida das Nações, havia três marquises: a da Rua Rangel Pestana foi recentemente pintada por causa da transferência do pronto-socorro para o local. A estrutura da Rua Sete de Setembro foi retirada e a central permanece inalterada. “Os funcionários do hospital verificam periodicamente como está o escoamento de água nas marquises”, fala o assessor jurídico e administrativo do hospital, Euclydes Fernandes Filhos. A estrutura da Rua Sete de Setembro, que era formada por grandes canaletas e não de laje de concreto, foi retirada no ano passado por causa das pessoas que se abrigavam à noite no local e “porque não usávamos mais aquela porta do hospital”, diz o assessor.

Andarilhos costumam se abrigar na marquise da antiga fábrica das Bebidas Primor, no cruzamento da Rua Prudente de Morais com a Rua Sete de Setembro, na Vila Nova. A estrutura, assim como o imóvel, está abandonado há décadas e aparenta precariedade.

Projeto

Valdir Silva da Cruz, da Abece, alerta que o acompanhamento deve ser feito por engenheiros estruturais. A associação enviou projeto de para a Câmara Municipal de São Paulo que propõe a realização da primeira vistoria na estrutura no máximo dez anos após a conclusão da obra e, depois disso, a cada cinco anos. “O laudo apontaria as condições e garantiria que a estrutura está em perfeito estado e não há risco de queda”, fala. A matéria foi proposta em outras duas legislaturas, sem sucesso. As cidades de Jundiaí e Porto Alegre já adotaram a obriga-toriedade da vistoria.

As inspeções periódicas constatariam se a marquise apresenta sinais de fadiga. “Com o tempo, podem aparecer fissuras na parte superior, o que dificulta a visualização, além das infiltrações”, diz o presidente da Abece.

Para Miranda Prado, em caso de acidente, tanto o engenheiro responsável pela obra quanto o proprietário deveriam ser responsabilizados, pois “além de atentar para a qualidade do material, é preciso acompanhamento profissional”. Em caso de queda de marquise, ele informa que o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA) indica comissão para verificar as causas do acidente.


Fonte: Jornal Comércio do Jahu - 17/04/2006